sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Capítulo 2 - Coragem


Finalmente tinha chegado o domingo, em que o famoso encontro semanal do grupo era na casa da Mia. A cada semana eles marcavam de se encontrar em um lugar diferente. Nem sempre os encontros eram em suas respectivas casas, algumas vezes eles iam ao clube, ou ao boliche, passatempo que todos adoravam. Mas, pelo tempo frio, eles preferiram se aconchegar na casa de Mia, que possuía uma grande lareira.
Mia havia descoberto um jogo diferente e interessante numa loja de antiguidades, na esquina de sua casa. Parecia um tanto quanto ultrapassado, mas Mia se interessava por coisas místicas de tempos remotos. Ela gostava muito de descobrir coisas novas sobre o passado da humanidade.
O nome do jogo era Kamirahj. Apesar do nome, que parecia ser proveniente da Índia, dizia-se que era um jogo japonês, que tinha o poder de prever o futuro. Mia estava com um pouco de receio da reação de seus colegas em relação ao jogo, pois achava que eles não teriam tanto gosto pelo misticismo quanto ela.
Mia estava em casa, com o jogo guardado em seu armário, quando ouviu a campainha tocar. Pelo toque repentino e longo, com pausas curtas, Mia rapidamente identificou que era Maira, sem antes mesmo chegar até a sala. O que a convivência não faz?
- Finalmente, achei que você nunca iria abrir a porta. Estou congelando – disse Maira, impaciente como de costume.
 - Deixe de ser mentirosa Maira. – disse Mia abraçando sua amiga e logo avistando dois vultos ao longe. – Os meninos chegaram!
- Nunca esteve tão frio antes! – Richard disse, sem se preocupar em saudar as meninas com suas palavras, dando apenas um beijo na bochecha das duas.
Cooper já foi logo entrando:
- Vamos todos entrar, pessoal? Estou bastante ansioso para ver o que a Mi preparou.
A casa da jovem era bem simples, um pequeno sobrado de paredes verde-claras, de teto baixo. Havia vários quadros nas paredes, com pinturas muito antigas. Eles se sentaram no tapete da sala de estar, ao redor da mesa de centro que ficava ao lado da lareira enquanto Mia foi ao seu quarto buscar o jogo.
Quando ela chegou com a caixa, os outros três jovens estranharam o jogo, exatamente como Mia havia previsto.
- Que tipo de jogo é este? – disse Maira, num tom áspero, de desconfiança.
Mia contou a história e o objetivo do jogo:
- É Kamirahj, o jogo do destino. Vou explicar para vocês: Existem quadros neste tabuleiro que devem ser preenchidos em dois lados: o do bem e o lado do mal. Este objeto triangular dirá o que pode acontecer a cada um daqui pra frente. É quase como em um ouija. Peter, o cara da loja em que comprei, disse que é um jogo milenar usado por pessoas que ousam em saber o destino de suas vidas.
- Você comprou esta porcaria na velha loja do Peter? Deve ter sido feito em qualquer lugar, de 5ª categoria. Eu não acredito em destino, isso é uma besteira – retruca Richard.
Mia ignora Richard, e preenche as lacunas para que o jogo comece, com coisas boas e ruins que eles imaginavam que poderiam acometê-los.
- Acho que escrever a palavra morte é quase que obrigatório, não é? – disse Cooper, com um brilho maroto nos olhos.
- Pare com isso, Cooper! Me dá medo.
- Logo você Maira, que estava descrente de que este jogo funcionaria? Pois se você ficar com medo, pode deixar que eu te protejo – disse Cooper, com o ego inflado, cheio de coragem, mas logo após recebeu piadas dos colegas, que diziam o quanto Cooper era metido.
O jogo era composto por um objeto triangular, como um indicador das respostas, e um tabuleiro grande, com aspecto de ser muito antigo. O objeto triangular tinha uma espécie de lente no centro, como uma lupa, que ampliava a fonte da palavra em que ele, “magicamente” parava em cima. O tabuleiro do jogo tinha duas colunas, e no cabeçalho estava escrito Good e do lado oposto Evil, e ao redor havia vários símbolos místicos, assim como em um ouija, como Mia havia dito. Depois de escrever, Mia pede para que cada um deles toque no objeto triangular e concentre suas “energias” nele. Um pouco descrentes, os amigos fazem o que Mia pediu e depois todos soltam o objeto, que se mexe velozmente, como se ele fosse realmente mágico.
Os adolescentes se assustam e Richard diz:
- Estão com medo? Que medrosos vocês são. Isto nem funcionará, é mentira.
E Mia, Maira e Cooper disseram em coro:                                          - Cale a boca, Richard!
Eles não tiravam o olho do jogo. De repente o objeto começou a tremer, mas sem sair do lugar. Ele parou em um quadrado do “lado ruim”, sentenciando morte aos quatro jovens, agora ainda mais assustados. As meninas soltam gritos abafados, enquanto Richard balança a cabeça negativamente. Cooper abraça Maira, que apesar de não gostar muito das investidas dele, pelo fato de ele ser mais novo, se sente bem mais segura. Mas os quatro estão muito impressionados para dar atenção a isso, e até mesmo Richard presta mais atenção no jogo, com uma leve pontada de medo. Mia esta absurdamente assustada, mas olha pra Cooper com um pouco de ciúmes, mas são ciúmes de mãe. Ela realmente tratava Cooper como seu irmão mais novo, e por ser tão curioso e desprovido de medo algum, era o integrante do grupo com quem Mia mais se preocupava. Ela sequer quis pensar na possibilidade da morte daquelas três pessoas, as pessoas que Mia mais amava no mundo. Mas seus pressentimentos não são tão otimistas quanto seu pensamento, que agora é o mesmo que Richard tinha anteriormente: “o jogo é uma mentira, e nada vai nos acontecer”, pensou ela.
Nesse momento, eles escutam um barulho estranho vindo do jardim e observam a janela da sala ao lado da lareira, que estava fechada. Nela havia um homem com uma roupa muito esquisita, parecida com a fantasia de um palhaço, mas totalmente desbotada. Ele não parecia fazer a alegria de muitas crianças com sua expressão séria e vazia, e com uma cicatriz estranha no olho esquerdo, que parecia ser alguma ranhura de uma das lentes vermelhas que ele usava, combinadas com uma peruca com aspecto de usada, num tom avermelhado, tão desbotado quanto suas roupas.  Seu rosto retratava um completo mistério. Estava claro que ele observava os jovens há mais tempo, que de tão concentrados no jogo nem notaram a presença de mais alguém ali. O que ele poderia querer? Porque estava vestido daquela forma? Seria alguma brincadeira de mau gosto? Quando o “palhaço misterioso” começou a ameaçar uma fuga, Cooper se levanta e diz:
- Eu vou atrás dele, antes que este “engraçadinho” fuja. De palhaço ele não tem nada, só pode ser alguém querendo pregar alguma peça na gente, se divertir as nossas custas!
Maira insistiu para que ele não fosse:
- Cooper, não! Pode ser perigoso, ele pode ter uma arma, pode ser um ladrão!
- E está muito frio lá fora, você pode se resfriar! – Completou Mia, com sua preocupação ainda mais aflorada.
Mas Cooper era muito teimoso. Não deu ouvidos á nenhuma das duas e, querendo fazer papel de “o corajoso, apesar de ser mais novo”, saiu pela porta dos fundos. Mia disse com a voz trêmula, totalmente assustada:
- Meu Deus, o que será do Cooper agora?
- Vai atrás dele, Richard! – disse Maira, tão assustada quanto Mia.
- O Cooper não é mais um bebê! Ele sabe muito bem se cuidar sozinho! E além do mais, que riscos uma pessoa com roupas de palhaço pode trazer?
- Vai agora Richard! – esbravejou Maira, com um olhar fulminante em direção a Richard.
- Tudo bem.
Ele caminhou pelos arredores da casa, mas não viu nenhum sinal do garoto ou mesmo do palhaço. Nenhuma pegada, nada. Depois de uns 10 minutos procurando sem obter nenhum resultado, Richard disse:
- Ele deve ter ido pra casa, e nos deixou aqui esperando. Por favor, não fiquem preocupadas, vocês sabem como o Cooper é esperto. Bom, eu também preciso ir – E os amigos se despedem, pois apesar do medo, concordam com a afirmação de Richard.
Mia, exercendo mais do que nunca seu papel de “mãe”, duvidava muito desta hipótese e achava que poderia ter acontecido algo com ele, até muito grave. Mas logo depois pensou:
-Eu confio no Cooper. Ele é um bom garoto - E foi dormir.

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